segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Levei meu cérebro a passear

Levei meu cérebro a passear
na orla do mar, pela vaga noite.
Ouro, ar, mar, cesto de ostras e estrelas.
Um cão ao lado brincava num sonho,
com as mãos do mar e da lua nos pelos,
era afagado pelas luzes náufragas.

Levei meu cérebro pra ver o mar
e ser ungido pelo puro sal.
Fiquei quase tonto de mar e ilha
e, emudecido ante o horizonte vago,
orei por um abrigo mais estrito.

Bruxuleante farol mergulhava,
algas deixavam bilhetes pra mim.
Lume movente no navio lá longe,
vidas no convés, Ulisses atado.
(Cativos do horizonte, marinheiros
em meio a ninho de circes turistas,
deslembravam de noivas e baleias.)

O cérebro meditava senil,
a vida gaivota se perdia...
Desatinado de pensar jornadas,
era minha mente sede em meio ao sal.
Enclausurado em silêncio escuro:
orei ao céu e escrevi na areia. 

Ipê amarelo


Carrossel de ouro vindo da terra e
do tempo. Artesão de neve amarela
Tecendo lenta guirlanda no chão
Para acamar seu rosto e o meu à noite.